terça-feira, julho 10, 2012

A Mulher que escreveu a Bíblia, de Moacyr Scliar


Título Original: A Mulher Que Escreveu a Bíblia
Autor: Moacyr Scliar
Editora: Companhia das Letras
Gênero: Romance Histórico
Sub-Gênero/Assunto: Vidas Passadas, Humor, Literatura Nacional
Período: Presente e Reinado de Salomão (a.c)
Ajudada por um ex-historiador que se converteu em "terapeuta de vidas passadas", uma mulher descobre que, no século x a. C., foi uma das setecentas esposas do rei Salomão - a mais feia de todas, mas a única capaz de ler e escrever. Encantado com essa habilidade inusitada, o soberano a encarrega de escrever a história da humanidade - e, em particular, a do povo judeu -, tarefa a que uma junta de escribas se dedica há anos sem sucesso. Com uma linguagem que transita entre a elevada dicção bíblica e o mais baixo calão, a anônima redatora conta sua trajetória, desde o tempo em que não passava de uma personagem anônima, filha de um chefe tribal obscuro.




Minha leitura deste mês para o Desafio Literário 2012. Prêmio Jabuti. [MINHA LISTA] .

Não vou negar, este mês foi complicado para eu escolher um livro. Não estava a fim de comprar um livro só para o Desafio e “Gabriela” e “Lavoura Arcaica” que eu sabia que haviam ganho o Jabuti e tinha em casa, eu já tinha lido. Foi então que eu descobri que “A Mulher Que Escreveu a Bíblia” também havia ganho o prêmio e eu tinha em casa! E eu não tinha lido! Ah, meus problemas acabaram!

Eu tenho que confessar: não leio muitos livros de autores nacionais, principalmente os contemporâneos. Não é exatamente preconceito mas o fato é que eu escolho minhas leituras a partir da sinopse (ou então se é de algum autor(a) que eu já sou fã) e devo dizer que são poucos os autores novos nacionais cujos temas realmente me interessam. Além disso, não me interessa se o livro é nacional ou não. Ele tem que ser bom e infelizmente, existe um certo paternalismo em relação a produção nacional. Qualquer crítica é encarada como uma ofensa pessoal. Sem contar que penso faltar uma “força” na prosa de muitos novos autores. Força essa encontrada em A Mulher Que Escreveu a Bíblia.

Ah, que livro divertido! Eu conhecia Moacyr Scliar através de seus textos e crônicas, porém este foi o primeiro romance do autor que li e posso dizer que gostei muito. Poucas vezes me diverti tanto lendo um livro. E olha que eu sou chata para "comédia". A Mulher Que Escreveu a Bíblia é humor puro, sem tirar nem por.

De certa maneira, pode-se considerar a estória não exatamente como um romance no sentido clássico mas sim como uma grande Crônica, retratando o dia-a-dia dessa mulher fantástica.

A estória começa no tempo presente aonde uma mulher, durante um tratamento de vidas passadas, diz ter sido uma das 700 esposas do Rei Salomão. A partir de então, somos “convidados” a ouvir o relato dessa esposa, que apesar de ser a mais feia das mulheres conseguiu um lugar de destaque no Harém do rei: ela sabia ler e escrever.

A protagonista não tem nome, ela é apenas designada como a feia. A feiúra é parte intrínseca da personagem e motivação da estória.

“A feiura é fundamental, ao menos para o entendimento desta história. É feia, esta que vos fala. Muito feia. Feia contida ou feia furiosa, feia envergonhada ou feia assumida, feia modesta ou feia orgulhosa, feia triste ou feia alegre, feia frustrada ou feia satisfeita- feia, sempre feia.”

E apesar de toda a feiura, esta mulher é extremamente inteligente e dona de uma incrível sensualidade (pedras, cuidado!). Quando o Rei lhe incumbe de escrever um livro (a Bíblia) contando a história do mundo, ela sente orgulho mas também muitas indagações. O livro não é nenhum pouco grosseiro ou desrespeitoso em relação ao “livro dos livros”, mas apresenta versões e questionamentos impagáveis sobre passagens bíblicas.

Não vou dizer que é necessário ter conhecimento profundo da Bíblia para ler este livro, mas conhecer algumas passagens do Velho Testamento ajuda um pouco a “entender a piada”, por assim dizer. Eu não sou religiosa, mas estudei em Colégio Católico, então não senti problemas de “compreensão”.

“Como é que Deus criou a alface? E o lambari? Eu gostaria de descrever Deus fabricando um peixe qualquer, escolhendo escamas, escolhendo nadadeiras, dizendo, hum, não gostei muito da forma da cabeça, cauda poderia ser um pouco maior. Mas, convenhamos: aí já estaríamos mais para gabinete de curiosidades do que para texto sagrado. A síntese era essencial para impor respeito.”

Não bastassem as tiradas sobre o texto sagrado, a nossa protagonista é uma observadora do mundo a sua volta- e, mais do que isso, uma indagadora. Suas tiradas são impagáveis. Por exemplo, para ela Salomão é um serial husband !

Mais do que uma trama original e interessante, o que chama realmente a atenção em A Mulher Que Escreveu a Bíblia é o texto carregado de humor de Scliar. Com uma escrita enxuta e sem verborragias, o autor conseguiu contar uma estória engraçadíssima. E o melhor, ele não carrega nas “tintas”, nem resvala para a grosseria. E isso por que A protagonista fala palavrão sem parar- porém, por mais estranho que pareça, isto não torna a leitura pesada ou indigesta. Pelo contrário, até mesmo no pior dos palavrões conseguimos rir. E olha que eu não gosto de “palavras de baixo calão”.

Como eu disse anteriormente, este não é um livro que segue os preceitos clássicos de um romance, mas não deixe isso desanimá-los. O livro é muito engraçado e vale a pena a leitura.

Recomendo!

Obs: A minha edição é da Companhia das Letras mas a Editora da Folha está lançando este livro nas bancas esta semana.


Outras Capas:



Cotação:

4/5
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